A Inteligência Artificial está avançando rápido demais para ser tratada apenas como um recurso tecnológico. O novo relatório da OCDE (2025) mostra que a IA passa a integrar a própria lógica de funcionamento dos governos, influenciando processos administrativos, análises de risco, formulação de políticas e até a forma como Estados contratam e prestam contas.
Esse movimento inaugura uma fase decisiva: a IA deixa de apoiar decisões e começa a participar da governança pública. Isso traz oportunidades, riscos e responsabilidades, especialmente para o Brasil, que já possui bases de dados extensas, instituições de controle maduras e uma agenda regulatória em construção.
Neste artigo, você vai entender:
- Como a OCDE enxerga o avanço da IA na gestão pública global
- Quais são os pilares da governança algorítmica
- Os principais desafios e oportunidades para o Brasil
- O impacto direto no mercado público e nas contratações governamentais
- E o papel da IBIZ em apoiar fornecedores e gestores nesse novo cenário
Boa leitura!
A IA como componente da governança pública
A OCDE aponta que os governos estão deixando de usar a IA apenas como ferramenta de eficiência para incorporá-la à própria estrutura de governança. Isso significa que algoritmos passam a influenciar processos administrativos, análises de risco, formulação de políticas e tomadas de decisão estratégicas.
No contexto brasileiro, isso se traduz em aplicações como:
- análise automatizada de editais e conformidade,
- previsão de demandas por insumos do SUS,
- classificação inteligente de processos administrativos,
- monitoramento contínuo de compras públicas,
- identificação de padrões de risco e comportamento institucional.
Esse movimento não elimina o papel humano, pelo contrário: amplia a responsabilidade dos gestores na supervisão, explicabilidade e controle das tecnologias usadas pelo Estado.
Os três pilares da governança algorítmica segundo a OCDE
Para que governos possam usar IA de forma ética, confiável e alinhada ao interesse público, a OCDE propõe três pilares fundamentais. Eles formam a base para políticas que reduzem riscos e ampliam o valor social da tecnologia.
1. Estruturas institucionais claras
A adoção de IA no setor público precisa ser acompanhada por estruturas formais de governança: comitês de ética, normas técnicas, órgãos de supervisão e padrões unificados entre os níveis federal, estadual e municipal.
2. Transparência e accountability automatizada
A OCDE reforça que algoritmos usados pelo governo devem ser explicáveis, auditáveis e rastreáveis.
Isso é especialmente crítico em decisões que envolvem:
- priorização de processos,
- definição de critérios de compras,
- análises de conformidade e preços,
- cruzamento de dados para formação de políticas públicas.
Sem transparência algorítmica, o Estado perde capacidade de supervisionar seus próprios sistemas.
3. Capacitação e cultura de dados
Modelos de IA só produzem resultados confiáveis quando apoiados por gestores capazes de interpretar e supervisionar as análises.
A OCDE enfatiza a necessidade de formar servidores com domínio em:
- conceitos estatísticos,
- riscos algorítmicos,
- viés,
- governança de dados,
- limites e implicações éticas da IA.
Desafios e oportunidades para o Brasil
Embora o país tenha avançado em dados abertos e maturidade institucional, a OCDE mostra que o Brasil precisa alinhar três camadas essenciais: tecnologia, regulação e capacidade humana.
A boa notícia é que o país reúne condições únicas para se destacar globalmente na adoção ética e estratégica de IA no setor público.
1. Bases de dados massivas e diversificadas
O Brasil possui grandes coleções de dados em saúde, educação, compras públicas, orçamento, assistência social e controle, essenciais para modelos preditivos e análises avançadas.
2. Instituições de controle robustas
TCU, CGU e CNJ possuem infraestrutura técnica e regulatória que permite auditar sistemas algorítmicos, um diferencial reconhecido pela OCDE.
3. Regulação e normas em consolidação
Com o Marco Legal da IA em discussão e diretrizes estabelecidas na Estratégia Brasileira de IA (EBIA), o país avança na construção de padrões nacionais de governança algorítmica.
Riscos que o Brasil precisa mitigar
A OCDE alerta para riscos específicos que precisam ser enfrentados:
- Vieses algorítmicos reforçados por bases incompletas ou despadronizadas;
- Desigualdade de maturidade digital entre entes federativos;
- Dependência excessiva de fornecedores privados;
- Risco da “caixa-preta algorítmica”, quando decisões automatizadas não são supervisionadas.
Por isso, governar com IA não é apenas adotar tecnologia é criar critérios, processos e instituições capazes de controlar essa tecnologia.
O impacto direto no mercado público
À medida que governos adotam IA de forma mais estruturada, as exigências nas contratações públicas mudam. Fornecedores precisarão demonstrar:
- explicabilidade dos algoritmos embarcados nas soluções;
- padrões de integridade e governança de dados;
- capacidade de auditoria e avaliação de impacto algorítmico;
- compliance técnico alinhado às diretrizes globais da OCDE.
Na prática, isso significa comprovar:
- como o algoritmo trata dados públicos,
- quais métricas de qualidade são usadas,
- como é feita a supervisão humana,
- como o sistema responde a auditorias do TCU ou CGU,
- que tipos de relatórios a solução gera para apoiar governança.
Não basta tecnologia: será necessário evidência técnica.
Essas exigências tendem a se tornar critérios de habilitação e diferenciação em editais, especialmente em tecnologia, automação, análise de dados e sistemas inteligentes.
O papel da IBIZ nesse cenário
A IBIZ atua como parceira estratégica ao apoiar fornecedores e gestores públicos na compreensão do comportamento institucional, antecipação de demandas e análise preditiva.
Com uma plataforma preparada para lidar com grandes volumes de dados estruturados e com análises contextualizadas, a IBIZ contribui para decisões públicas e privadas mais transparentes, fundamentadas e alinhadas às melhores práticas internacionais.
O futuro dos governos será digital, mas principalmente algorítmico.
A adoção da IA exige que países criem políticas de governança claras, fortaleçam instituições e capacitem servidores para supervisionar modelos que passam a influenciar diretamente decisões públicas.
Para o mercado público, isso marca uma mudança profunda. E para quem quiser liderar esse movimento, seja gestor ou fornecedor, compreender essas tendências é indispensável. Para complementar sua análise leia: Governar com IA: quando o Estado aprende a enxergar de novo.