A pandemia de Covid-19 nos obrigou a repensar os modelos de trabalho. As corporações foram obrigadas a acompanhar essas mudanças e a reestruturar suas equipes em sistemas remotos e horários mais flexíveis. A partir das novas demandas geradas pela crise sanitária, algumas carreiras se mostraram imprescindíveis e ganharam destaque no que vem sendo chamado de o novo normal.
Para o professor em gestão de pessoas da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Lauro Russi, apesar da instabilidade no mercado de trabalho, causada, predominantemente, por fatores de ordem política, social e econômica potencializados pela pandemia, é necessário ressaltar quais são as opções a partir de 2021. “Algumas já estão à nossa disposição, outras em desenvolvimento. Além disso, pudemos concluir nestes últimos meses que os mecanismos tecnológicos disponíveis nos proporcionam mais agilidade e eficácia nos processos e, ao final, uma melhor qualidade de vida que precisa ser considerada”, diz.
Apurador de fake news
As fakes news ganharam mais visibilidade durante a pandemia da Covid-19. Informações falsas envolvendo a crise sanitária, processos de imunização e posicionamentos do governo aumentaram a preocupação da população sobre os dados que circulam nas mídias. Um estudo da Universidade de Oxford publicado em janeiro deste ano apontou que, em 2020, cerca de 81 países, incluindo o Brasil, tiveram “propaganda computacional” e “desinformação industrializada” sobre a política nacional, que foram impulsionadas por “tropas cibernéticas”.
Eberson Terra, mentor da consultoria Seu Caminho e professor convidado de digital degree da ESPM, diz que esse cenário impulsionou a procura por profissionais focados em analisar e deter a disseminação de notícias falsas, que podem envolver conteúdo ou conexão errada dos fatos, manipulação, posts enganosos etc. “Além de editores e repórteres, dentro de pouco tempo as redações contarão com o profissional que exercerá a função de ‘apurador de fake news’, uma atividade que tende a ser crucial para a classificação de publicações nas redes sociais ou comprovação da veiculação de fake news.”
Ele justifica que esse aumento nos casos de distorções de notícias vêm das possibilidades que a internet dá aos usuários. “Se antes a notícia chegava apenas através dos grandes portais, com a massificação das redes sociais e a popularização dos smartphones qualquer pessoa consegue publicar conteúdo a qualquer hora e de qualquer lugar.”
Data Protection Officer
Apesar de ser uma carreira nova no mercado, o data protection officer (DPO) é uma das tendências para o mercado nos próximos cinco anos, principalmente por conta da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). “Após a implementação dessa lei em setembro, diversas adaptações e necessidades tiveram que ser atendidas pelas empresas, o que gerou o surgimento do DPO. Esse profissional pode ser considerado o ‘guardião’ dos dados da corporação”, comenta Mariana Horno, gerente sênior de recrutamento da Robert Half, empresa especializada em recursos humanos e seleção. Ela reforça que esse especialista será capaz de exercer a governança sobre a proteção de informações de uma ou mais companhias.
O DPO aparece como um dos destaques de uma pesquisa da PageGroup, publicada em dezembro de 2020, sobre profissões em alta em 2021. Uma pessoa habilitada pode chegar a ganhar até R$ 20 mil por mês, segundo o estudo. Pode parecer muito, mas vale lembrar que as multas pelo descumprimento da lei podem chegar a 2% do faturamento de empresas, até o teto de R$ 50 milhões – por infração.
Gestor de resíduos
Celson Hupfer, CEO da Connekt, plataforma de recrutamento digital, diz que, paralelamente à quarta revolução industrial, o mundo está cada vez mais consciente da necessidade de equilíbrio e recuperação ambiental. Com isso, o gestor de resíduos é uma carreira imprescindível de agora em diante.
Além da preocupação com o meio ambiente, Rogerio Bragherolli, economista especialista em capital humano e empregabilidade, afirma que o lixo pode ser uma grande fonte de riqueza. “O profissional especializado nessa área será responsável pelo direcionamento correto e transformação do material descartado em valor econômico. Esse é um campo muito promissor nos próximos anos.” Os bons gestores vão conseguir mesclar a importância social com a troca financeira, dois tópicos importantes. O piso salarial de um profissional sênior pode variar entre R$ 8 mil e R$ 19 mil, segundo com o portal “Educa Mais Brasil”.
Gerontólogos
Vania Herédia, presidente do departamento de gerontologia da Sociedade Brasileira Geriatria e Gerontologia (SBGG), comenta que o aumento gradual da população idosa gera novas demandas profissionais. “O atendimento e os novos estudos sobre os cuidados que esse grupo precisa devem ser direcionado por especialistas. O envelhecimento humano é uma pauta fundamental dos processos sociais, que abordam questões de sociabilidade, convivência e inclusão.” Sendo assim, a gerontologia, campo que estuda o processo de envelhecimento humano em todas as suas especificidades, é um segmento fundamental para os próximos anos.
“A necessidade da intervenção neste campo por um técnico amplia e reforça o seu caráter multi e interdisciplinar, uma vez que o envelhecer compreende diversos aspectos da vida humana e o seu estudo se constitui a partir de conteúdos distintos”, diz a especialista.
Ela explica que a geriatria e a gerontologia são diferentes, já que a primeira está relacionada à formação médica. “Já o gerontólogo não necessariamente é formado em medicina, mas se capacita nesse campo para focar na qualidade e bem-estar desse grupo. Ele pode atuar em diversos campos referentes ao envelhecimento, quer seja na saúde, assistência social, nutrição, judiciário e previdência, entre tantos outros.”
Especialista em Big Data
A empresária Dani Verdugo, headhunter na T.H.E. Consulting, uma boutique de executive search, diz que o profissional focado em big data é imprescindível neste momento em que o mercado tem direcionado decisões, produtos e serviços de acordo com o perfil de seu público consumidor. “Com isso, a quantidade de dados armazenados online por todos os dispositivos conectados à internet é gigantesca. Aqueles que souberem lidar, organizar e analisar esses conteúdos e transformá-los em informações valiosas, capazes de ser usadas para os mais diversos objetivos, serão cada vez mais desejados pelas empresas.”
Fonte: Forbes