Governos colaborativos e seus cases de sucesso que nos dão o que pensar
07/06/2023
Governos colaborativos e seus cases de sucesso que nos dão o que pensar
Na última edição do Lumina, abordei o tema dos governos colaborativos e volto a ele, que é, na minha opinião, um dos assuntos mais quentes e relevantes para o futuro das Compras Públicas e da Administração Pública, no Brasil e no mundo.
Acredito que os cases têm o poder de nos proporcionar uma imersão em outra realidade, quer seja uma empresa, cidade ou país, e com eles aprendemos a pensar e a nos questionar sobre o que e como faríamos diferente para melhorar os cenários ao nosso redor.
Ao longo de minha trajetória na IBIZ, venho estimulando, de forma consistente, o desenvolvimento de cases, não só porque eles representam o que há de melhor em termos de visão inovadora e gestão estratégica, mas porque por meio de exemplos concretos e bem-sucedidos, podemos fazer uma revisão do que precisa ser aprimorado na gestão de uma empresa ou de um governo.
O case traz certa inquietude. E o desconforto que ele gera impulsiona a transformação e mobiliza talentos e mentes em torno de uma nova ideia, um novo jeito de fazer as coisas. Cases são uma forma inteligente de agilizar transformações, com base em algo já fundamentado e construído, replicado em outras realidades – lógico, sempre com certa adaptação.
E falando em um novo jeito de fazer as coisas, fazer mais e melhor, compartilho como prometido no último Lumina, um dos cases que citei naquela ocasião.
Falo de um case exemplar sobre governo colaborativo que tem se destacado globalmente, a Dinamarca. Com seus mais 5.792.000 habitantes, este país escandinavo, tido como uma das democracias parlamentares mais transparentes do mundo, é uma fonte recorrente de inspiração no desenvolvimento de soluções eficientes e inovadoras para a administração pública.
O setor público dinamarquês é reconhecido por seu modelo de inovação, cuja abordagem sistêmica coopta e integra seus cidadãos no processo de inovação colaborativa, conforme pesquisas recentes da OECD (Organization for Economic Cooperation and Development).
Apresento aqui uma breve linha do tempo sobre a evolução do processo de inovação que se deu na Dinamarca nos últimos oito anos:
Em 2015, a Dinamarca criou e publicou uma ferramenta denominada Barômetro da Inovação, estudo estatístico que monitora o grau das inovações apresentadas e implementadas pelas diversas áreas da administração pública.
No ano seguinte, em 2016, o país dá mais um passo na estruturação da sua política pública de inovação ao criar um cargo específico: ministro da Inovação do Setor Público – situado dentro da estrutura do Ministério da Fazenda.
No mesmo ano, estabelece mais um marco ao lançar a Digital Strategy em coordenação com os órgãos municipais, regionais e estaduais para suportar o desenvolvimento e implementação de soluções tecnológicas para acelerar a digitalização da Dinamarca em todas as esferas públicas.
Com o objetivo de potencializar a “cultura da inovação” nas esferas públicas e atrair os cidadãos e contribuintes para participar desta gestão da inovação colaborativa, foi criada uma premiação exclusiva: Public Sector Innovation Award.
Em 2021, a cultura da inovação e melhores práticas na gestão pública ganhou ainda mais musculatura e visibilidade com a publicação do primeiro Manual para Mensuração da Inovação Pública, em Copenhagen.
Outro fato que me chama muita atenção é o engajamento da população no âmbito da inovação na esfera pública. O mapeamento da OECD identificou os principais atores deste processo de inovação sistêmica e colaborativa da Dinamarca. Os cidadãos dinamarqueses são estimulados a integrar o projeto de desenvolvimento colaborativo do país e se encontram organizados em diferentes formatos, com destaque para:
Sociedade civil: inúmeras organizações de diferentes perfis da sociedade privada dinamarquesa, entre as quais destacam-se a Danish Design Centre; empresas de saúde privada; empresas de tecnologia de ponta e até mesmo a Cruz Vermelha local.
Redes colaborativas e associações: fóruns são organizados para compartilhar informações e, acima de tudo, propor novas ideias e projetos para acelerar a inovação e o desenvolvimento tecnológico do país na esfera pública.
Hubs e laboratórios de inovação: os órgãos municipais contam com a presença de hubs colaborativos que estão aptos a subsidiar o desenvolvimento de novas soluções e ferramentas para a gestão pública e o bem-estar socioeconômico da população.
Vejam que interessante. A meu ver, é um jeito simples e objetivo de definir o que importa. A cultura da inovação e da experimentação dinamarquesa está baseada nos seguintes pilares:
Clareza: a inovação está intimamente relacionada com a solução de problemas e a população e seus indivíduos são instados a responder com clareza, como, quando e por que a inovação deve ser empregada para resolver problemas coletivos. A clareza de propósito é um dos drivers do processo de inovação pública sistêmica do país.
Possibilidade: uma série de fatores, como recursos disponíveis, barreiras, assuntos regulatórios, entre outros, são considerados dentro da metodologia da inovação colaborativa.
Capacitação: a capacitação, habilidade e conhecimento dos indivíduos e organizações que atuam no processo de desenvolvimento sistêmico da inovação são identificados e mapeados, para que os recursos sejam otimizados, dependendo de cada demanda específica que surgir ao longo dos projetos.
Quer conhecer em detalhes este case sobre inovação colaborativa? Compartilho aqui com você o link sobre este interessante estudo, com o qual me deparei em minhas pesquisas sobre o tema: Clique aqui!
E ressalto que, embora a realidade dinamarquesa seja completamente diferente da nossa e eles estejam, por assim dizer, anos-luz de distância de nós no que diz respeito à gestão colaborativa no ambiente das políticas e serviços públicos, ouso dizer que podemos e devemos caminhar no sentido de desenvolvermos a nossa própria cultura da governança colaborativa, respeitando as nossas idiossincrasias, reconhecendo os defeitos e valorizando as virtudes que nos fazem brasileiros e, sim, inovadores e colaborativos, por excelência!
Como se diz em dinamarquês , “kom igang med at arbejde”, mãos à obra!
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