
Colaboração como Pilar da Transformação nas Compras Públicas: Lições e Caminhos para o Brasil
Explore como a colaboração pode transformar as compras públicas no Brasil, com lições e caminhos para uma gestão mais eficiente e transparente.
A transformação do mercado público brasileiro depende da capacidade de criar pontes entre o setor público e o privado. Ao longo dos últimos anos, o excesso de regulamentações e a ausência de diálogo estruturado têm comprometido a fluidez do abastecimento governamental. No entanto, países como Irlanda e Nova Zelândia já demonstram, por meio de modelos colaborativos de compras públicas, que é possível combinar legalidade, inovação e eficiência.
No Brasil, ainda há barreiras importantes — descentralização, insegurança jurídica e baixo estímulo à inovação compartilhada. Mas iniciativas como o In.hub, promovido pela IBIZ em parceria com o Insper, mostram caminhos viáveis. Esses fóruns possibilitam a escuta ativa, o mapeamento de gargalos e a construção conjunta de soluções, envolvendo especialistas, fornecedores e gestores públicos.
A jornada colaborativa pode ser impulsionada com ações concretas, como:
Mais do que leis, precisamos de uma nova cultura: a cultura da colaboração contínua, da escuta e da coautoria de soluções. Isso não diminui o controle — amplia o impacto. A excelência no abastecimento público será fruto direto desse hábito.
“A excelência não é um ato, mas um hábito.” — Aristóteles
Queridos leitores,
Bem-vindos a mais uma edição da série Lumina, onde lançamos luz sobre os caminhos possíveis (e necessários) para construir um mercado público mais eficiente, conectado e sustentável.
Na jornada que percorremos até aqui, discutimos os desafios históricos da gestão pública, o papel da tecnologia, o uso de dados como alicerce da tomada de decisão, a importância da educação para transformar o setor e, recentemente, os pilares de sustentação para mudanças reais. Agora, damos um passo adiante: é hora de falar sobre a ação coletiva. E mais do que isso — é hora de falar sobre ecossistemas colaborativos.
🤝 Ninguém Transforma Sozinho.
O mercado público brasileiro é um dos mais complexos e desafiadores da América Latina. Com processos longos, demandas imprevisíveis e uma cadeia de negócios extensa, fornecedores e governo enfrentam desafios semelhantes.
Diante desse cenário, a colaboração entre os diversos atores envolvidos nas compras públicas — órgãos governamentais, fornecedores, sociedade civil e instituições de ensino — torna-se essencial para superar os obstáculos e promover uma transformação efetiva.
A complexidade regulatória é um dos grandes gargalos do mercado público: leis, regras, processos e controles se sobrepõem, muitas vezes tornando ineficiente a engrenagem que deveria movimentar o abastecimento governamental. Em vez de transparência com eficácia, colhemos muitas vezes rigidez com lentidão. A colaboração entre os setores permite compartilhar visões complementares para melhorar esse quadro: enquanto o governo busca garantir legalidade, o setor produtivo pode ajudar a identificar gargalos operacionais e sugerir ajustes baseados na prática.
O problema é que essa interdependência, muitas vezes, é ignorada na prática. A fragmentação de informações, a falta de comunicação e a ausência de planejamento conjunto geram retrabalho, perda de eficiência e, em casos críticos, desassistência de serviços essenciais.
De acordo com a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), países que implementam práticas colaborativas no setor público tendem a reduzir em até 15% os custos operacionais e ampliam a eficácia das entregas em setores como saúde, educação e infraestrutura.
Diversos países membros da OCDE vêm aplicando modelos colaborativos que não só melhoram o planejamento, mas elevam a qualidade e a efetividade das contratações públicas:
Na Irlanda, o OGP (Office of Government Procurement) centralizou e coordenou o processo de compras públicas, criando Grupos Consultivos com o setor privado e acadêmico. Isso reduziu custos, aumentou a transparência e fortaleceu o planejamento antecipado com base em dados e análises multissetoriais.
🔗 Fonte: OECD Procurement Case Study – Ireland
A Nova Zelândia estabeleceu um fundo de inovação em parceria com o setor bancário para financiar projetos que melhorem os serviços públicos. Essa iniciativa resultou em soluções inovadoras, como assistentes virtuais para atendimento ao público e serviços de auditoria de segurança cibernética, demonstrando o poder da colaboração entre setor público e privado.
🔗 Fonte: OECD Observatory of Public Sector Innovation“
No Brasil, a descentralização das compras públicas e a falta de padronização dificultam a implementação de estratégias colaborativas. No entanto, iniciativas como o In.hub, em parceria com o Insper, promovem discussões colaborativas entre governo, fornecedores e distribuidores, visando à educação e à proposição de soluções conjuntas.
Além disso, a capacitação de profissionais da cadeia de suprimentos e dos próprios órgãos governamentais é fundamental para fomentar uma cultura de colaboração e eficiência nas compras públicas.
Construir uma jornada colaborativa passa por iniciativas concretas:
Fomentar a colaboração não significa simplesmente estimular ‘boa vontade’ entre os agentes públicos e privados. Trata-se de estruturar processos, ferramentas e ambientes propícios para que o trabalho conjunto seja possível e produtivo.
Isso inclui desde a criação de sistemas integrados de informação, passando por painéis compartilhados de planejamento de compras, até iniciativas de cocriação de políticas públicas com o apoio da sociedade civil e fornecedores. O Canadá, por exemplo, implementou uma abordagem colaborativa nas aquisições governamentais de tecnologia, utilizando grupos de trabalho mistos para mapear necessidades e mitigar riscos regulatórios. O resultado foi uma aceleração de até 40% no tempo de contratação e maior aderência das soluções contratadas às reais demandas dos órgãos
O mercado público está em uma fase crítica de transformação. Temos todas as ferramentas à disposição — dados, gestão e parcerias — para criar um ecossistema mais eficiente.
Reforço a necessidade de colaboração nas compras públicas entre fornecedores, governo e distribuidores, enfatizando a importância contínua da educação para todos os envolvidos e como isso pode gerar impactos duradouros.
Se unirmos tecnologia, inteligência de dados, educação e colaboração, temos uma grande chance de transformar esse mercado e criar um ambiente propício de relação ganha-ganha.
A transformação do mercado público exige mais do que tecnologia ou nova legislação. Exige um novo hábito: o de construir com o outro. Escutar. Compreender os limites e reconhecer as forças de quem está do outro lado da mesa. Colaborar não é abrir mão do controle — é ampliar horizontes, somar inteligências e gerar valor coletivo.
Colaborar é um verbo que se aprende fazendo. Iniciar com pilotos de integração entre prefeituras e estados, fomentar consórcios intermunicipais para compras compartilhadas, envolver fornecedores nas etapas iniciais da licitação e trazer os órgãos de controle para o desenho das soluções são caminhos viáveis e profundamente transformadores.
A própria OCDE reforça que ambientes colaborativos — pautados em transparência e metas comuns — aceleram a inovação. Quando há confiança, o risco é diluído e o aprendizado se expande, beneficiando toda a rede de atores públicos e privados.
É justamente essa confiança que permite sair do discurso e avançar para práticas consistentes. Na próxima década, os avanços mais significativos não virão da força isolada, mas da inteligência em rede. Em vez de reinventar a roda sozinhos, gestores públicos têm hoje a chance de construir pontes sólidas entre instituições. E o resultado desse movimento é claro: uma cadeia de suprimentos mais ágil, com maior impacto social e menos desperdício.
Porque excelência, como já dizia Aristóteles, não é um feito ocasional — é um hábito construído juntos.
Luz, hoje e sempre!
Daniela Corrêa Triñanes
Clique aqui e conheça as nossas iniciativas!