Covid: como Portugal foi de líder em mortes a zero vítimas em 3 meses
30/04/2021
Covid: como Portugal foi de líder em mortes a zero vítimas em 3 meses
De campeão de mortes e casos na União Europeia a único país sem mortes por covid-19 em 24 horas na região. Portugal viveu dois extremos durante esta pandemia em um curto espaço de apenas três meses.
No final de abril, a Direção-Geral de Saúde de Portugal, órgão ligado ao ministério da Saúde do país, registrou em seu boletim 196 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas e zero mortes.
O país de 10 milhões de habitantes acumulou mais de 834 mil casos e 16 mil mortes por covid-19 desde o começo da pandemia. Há três meses, Portugal liderava em número de casos e mortes por covid-19 no bloco europeu.
Nas últimas duas semanas de janeiro, Portugal havia registrado a taxa de infecção por covid-19 mais alta da União Europeia: 1.429,43 por 100 mil habitantes, segundo os dados do Centro Europeu para a Prevenção e Controle de Enfermidades. O país também tinha a taxa de mortalidade mais elevada da União Europeia: 247,55 por milhão de habitantes.
O médico brasileiro Marcelo Matos disse na época à BBC News Brasil que Portugal vivia um “tsunami” e era um “barril de pólvora”, devido a alta proporção de idosos e fumantes na população.
Agora esses números desabaram — a incidência da doença caiu de 1,4 mil para 67 para cada 100 mil habitantes — e o país vive um momento de otimismo e reabertura. O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Henrique Barros, disse nesta semana em uma conferência sobre a pandemia que “se tudo correr normalmente”, Portugal pode não ter mais casos de coronavírus a partir de setembro.
“Por setembro, se tudo correr normalmente, esperamos não ter casos”, disse ele, ressaltando que é preciso manter o atual plano de vacinação.
Na sexta-feira, terminará o longo estado de emergência no país, que foi decretado em novembro e durou 172 dias. E a partir de segunda-feira (03/05), Portugal entrará na última fase do que chama de “desconfinamento” — o fim gradual das fortes medidas de lockdown que foram impostas no começo do ano.
As medidas incluem:
reabertura de restaurantes, cafés e pastelarias, com máximo de 10 pessoas por mesa, sem limite de horários;
liberação de todas as modalidades desportivas;
permissão para atividade física ao ar livre e em ginásios;
realização de grandes eventos em espaços externos; eventos em espaços internos lotação reduzida;
realização de casamentos e batizados com máximo de 50% de lotação do local.
Fronteiras fechadas, vacina e lockdown
Mas o que Portugal fez para reverter seu quadro em tão pouco tempo?
As principais medidas tomadas pelo país foram o investimento no programa de vacinação, a decretação de lockdowns severos ao longo do inverno europeu e o fechamento rigoroso de fronteiras — especialmente quando surgiam variantes novas do coronavírus em países como Reino Unido, Brasil e África do Sul.
Na parte da vacinação, Portugal vem sofrendo com os mesmos atrasos que a União Europeia — que entrou em um imbróglio legal com as farmacêuticas fornecedoras das vacinas.
Mesmo assim, o governo conseguiu vacinar todos os portugueses com mais de 80 anos, a faixa etária com maior letalidade por covid e em breve terá vacinado todos acima de 60 anos. Mais de 21% das pessoas em Portugal já receberam a primeira dose da vacina — contra apenas 12% no Brasil.
O governo está confiante que no ritmo atual, será possível acelerar essa proporção. O secretário de Estado da Saúde, Diogo Serras Lopes, disse nesta semana que o país poderá alcançar a imunidade coletiva “no início e não no final do verão”.
O controle de fronteiras também foi outra medida importante. No auge da pandemia, Portugal reforçou o bloqueio ao coronavírus, proibindo todas as viagens não-essenciais ao exterior. As fronteiras foram fechadas com a Espanha e por meses houve poucos voos chegando a Lisboa até mesmo de outros países europeus. Voos para países como o Brasil chegaram a ser suspensos por completo e retomados apenas na semana passada.
Variantes ainda preocupam
Em Portugal, as autoridades afirmam que a luta contra o coronavírus ainda não acabou e sugerem que a reabertura pode ser interrompida ou até revertida, caso haja ressurgimento da covid-19.
“Se necessário for, não hesitarei em decretar novo estado de emergência”, disse na terça-feira o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ao anunciar que vai parar de renovar o estado de emergência — que já havia sido renovado em 15 ocasiões. Com isso Portugal passará a estar em estado de “calamidade”, o que ainda permite que o governo adote algumas medidas de restrição, caso sejam necessárias.
A variante britânica do vírus ainda preocupa, pois está crescendo entre os novos casos de covid-19.”Há 15 dias nós estávamos com 83% dos casos de covid-19 causados pela variante do Reino Unido e agora estimamos estar já nos 89, 90% à data de ontem [segunda-feira]”, disse o coordenador do estudo sobre a diversidade genética do novo coronavírus em Portugal, João Paulo Gomes, segundo o jornal Diário de Notícias.
Ainda assim, o país se prepara para receber turistas britânicos e alemães durante os meses do verão europeu. Até março, Portugal ainda estava na lista “vermelha” do governo britânico — de países com altas restrições de viagens para turistas do Reino Unido. Acredita-se que ao longo de maio, Portugal entre na lista “verde”, com menos restrições.
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