Você Sabia? – Dia Nacional de Combate à Dengue
O Dia Nacional de Combate à Dengue, celebrado anualmente no Brasil em 11 de novembro, reforça a importância da prevenção e do controle dessa doença que afeta milhões de pessoas no país. Com o...
Emily, de 29 anos, moradora de Londres, diz que sempre foi um pouco introvertida. Ela costumava namorar, mas quando as restrições do primeiro lockdown no Reino Unido terminaram em julho, ela ficou relutante em começar a sair com alguém novamente.
“Eu conversei com algumas pessoas em aplicativos de relacionamento, mas não estava com pressa de me encontrar com ninguém”, diz ela. “Tudo em relação à pandemia me deixou bastante ansiosa.”
No início de agosto, ela aceitou sair com uma pessoa que havia conhecido por aplicativo para tomar uma cerveja, seu primeiro encontro desde março.
Estávamos trocando mensagens há alguns meses, e ele foi muito legal”, conta Emily, que não quis ter seu nome completo publicado.
Mas quando eles finalmente se encontraram…”Me senti extremamente hesitante.”
“No meu subconsciente, eu ainda não tinha certeza se estava pronta para namorar novamente. Mais tarde naquele dia, enviei uma mensagem de texto para ele explicando como me sentia, e ele respondeu dizendo que havia percebido isso pela minha linguagem corporal”, relembra.
Emily não é a única que considera tenso sair com alguém em meio à pandemia de covid-19. Na verdade, seu comportamento está de acordo com um estudo de 2017, no qual um grupo de psicólogos da Universidade McGill de Montreal, no Canadá, analisou se o comportamento das pessoas no que se refere a relacionamentos amorosos mudaria se elas estivessem preocupadas com o risco de doenças infecciosas.
Será que evitariam buscar um relacionamento se estivessem inconscientemente cientes do potencial risco à saúde, ou o desejo humano natural de encontrar um parceiro prevaleceria?
Os pesquisadores não faziam ideia de que a covid-19 estava prestes a chegar. Agora, o trabalho deles, combinado com outros estudos psicológicos conduzidos durante a pandemia, oferece uma visão fascinante e altamente relevante de como a crise de saúde parece estar afetando nosso comportamento no campo dos relacionamentos amorosos. E indica maneiras pelas quais podemos ter encontros mais eficientes no futuro, assim como criar laços de relacionamento mais profundos e fortes.
O experimento da McGill indica que a hesitação de Emily pode ser atribuída a um elemento de nossa psique conhecido como “sistema imunológico comportamental”.
Os patógenos sempre representaram uma ameaça à nossa sobrevivência ao longo da história humana. Assim, os psicólogos evolucionistas acreditam que os seres humanos desenvolveram um conjunto de respostas subconscientes que se manifestam quando estamos particularmente preocupados com a presença de uma doença infecciosa.
Essas respostas nos levam a adotar padrões de comportamento que reduzem a probabilidade de infecção, como ser menos abertos e reduzir o contato visual em situações sociais.
A equipe da Universidade McGill analisou como isso funcionava no contexto dos encontros amorosos. Eles pegaram centenas de homens e mulheres heterossexuais solteiros, com idades entre 18 e 35 anos, e pediram que completassem um teste psicométrico conhecido como Vulnerabilidade Percebida à Doença.
O teste consiste em um questionário de 15 itens, em que os participantes devem classificar com números de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente) seus sentimentos em relação a questões como: ‘Fico muito incomodado quando as pessoas espirram sem cobrir a boca’ ou ‘Meu sistema imunológico me protege da maioria das doenças que outras pessoas pegam’.
Cada um dos participantes assistiu em seguida a um vídeo sobre higiene e abundância de bactérias no mundo cotidiano. O objetivo era preparar seu sistema imunológico comportamental antes de saírem para um encontro à noite com um representante do sexo oposto.
Curiosamente, os pesquisadores descobriram que aqueles que indicaram que se sentiam mais vulneráveis a doenças apresentaram níveis muito mais baixos de interesse em seus pretendentes — mesmo quando eram altamente atraentes. O medo da doença os deixava menos interessados em namorar.
Como no caso de Emily, seus pretendentes perceberam o comportamento contido deles no estudo, uma descoberta que impressionou John Lydon, um dos autores do estudo, como “especialmente notável”.
“Em apenas alguns minutos, as pessoas notaram que seu par tinha uma alta vulnerabilidade percebida à doença, embora evidentemente não soubessem disso, eram mais retraídos e menos amigáveis”, diz ele.
É claro que, mesmo que você fosse capaz de ignorar as mensagens de sobrevivência do seu subconsciente, o simples ato de encontrar um parceiro em potencial não tem sido fácil na pandemia. Os lockdowns nacionais acabaram restringindo as liberdades individuais de maneira sem precedentes por meses a fio, tornando quase impossível sair e namorar.
Mas, à medida que o trabalho migrou para o ambiente digital, os romances também. Ben, um atuário de 27 anos que mora em Bristol, no Reino Unido, era inicialmente cético à ideia de encontros virtuais por vídeo. Mas com poucas alternativas no início de abril, ele logo começou a abraçar essa nova tendência — e não demorou muito até mesmo para ver algumas vantagens nela.
“Um dos principais problemas com aplicativos de relacionamento é que você não tem ideia de como a outra pessoa realmente é antes de conhecê-la”, diz Ben, que pediu para não revelar seu nome completo, caso futuras pretendentes encontrem esta reportagem.
“Não há nada mais estranho do que encontrar alguém em um bar e descobrir nos primeiros cinco minutos que vocês não têm química. Nos encontros por vídeo, é um pouco mais relax. Você pode bater um papo e beber em sua própria casa, e se você não estiver a fim, não sente que perdeu a noite. ”
A cientista comportamental Logan Ury, que atualmente trabalha como diretora de ciência do relacionamento no aplicativo de encontros Hinge, também percebeu uma mudança na forma como as pessoas estão abordando os relacionamentos online. Antes da pandemia, era comum usarem o aplicativo para pular continuamente de pessoa para pessoa.
Mas, à medida que as restrições sociais surgiram, as pessoas começaram a passar mais tempo se conhecendo no mundo virtual antes de se encontrarem. Isso significa que, quando finalmente conseguem se conhecer pessoalmente, o encontro passa a ter mais importância na cabeça deles.
“A pandemia significa que cada encontro se torna mais precioso”, afirma Ury.
“Eu vi pessoas começarem relacionamentos pela primeira vez em muito tempo, porque tinham menos distrações, e a pessoa com quem estavam saindo se tornou mais valiosa para elas.”
“Essas pessoas pararam com o hábito de sempre passar para o próximo, achando que a grama do vizinho é sempre mais verde, e essa mudança provavelmente não teria acontecido sem a pandemia.”
Ela acredita que as pessoas também se tornaram mais honestas consigo mesmas e com os outros quanto ao que procuram, devido aos momentos de introspecção pelos quais muitos passaram durante o lockdown.
“Como as pessoas passaram muito tempo sozinhas, pensando quando será o próximo pico de covid, quando será o próximo lockdown, muitas passaram a querer se relacionar de forma mais intencional.”
“E essa intencionalidade pode aparecer de várias maneiras. Por exemplo, sendo mais honesto com você e com os outros sobre o que você quer, valorizando cada encontro e se preparando mentalmente de fato para isso, e não praticando ghosting se você não estiver interessado. Em geral, eu acho que essas coisas são muito boas para a comunidade dos aplicativos de relacionamento.”
Mas as pessoas que já estão comprometidas tampouco estão imunes ao impacto amoroso da pandemia. Na Universidade Amherst de Massachusetts, nos EUA, a psicóloga social Paula Pietromonaco tem analisado o que faz alguns casais ficarem ainda mais unidos, apesar do estresse da crise de saúde, enquanto outros se separam.
Embora os fatores socioeconômicos tenham um papel importante — os casais mais afetados financeiramente pela pandemia são mais propensos a se separar —, Pietromonaco diz que depende muito de como os casais abordam os problemas que surgem em seu caminho.
“Se eles se veem como um time, responsabilizando a própria pandemia pelo estresse, em vez de algo no seu parceiro, é mais provável que saiam mais fortes dessa situação”, diz ela.
Como a pandemia mudou tanto a vida de todos, ela prevê que as perspectivas de longo prazo de muitos casais serão influenciadas pelos padrões de comportamento estabelecidos durante esse período.
“É provável que os comportamentos continuem após a pandemia”, afirma.
“Os casais podem acabar melhorando a comunicação, apoiando mais um ao outro depois que isso acabar. Mas se eles entrarem em padrões de conflito, isso também pode virar uma espiral. Para alguns, pode ser a chacoalhada que faltava para ajudá-los a mudar seu comportamento para melhor, enquanto para outros pode ser a gota d’água. ”
Para quem está solteiro, a pandemia pode ter trazido mudanças que vieram para ficar, mesmo quando a vida voltar ao normal.
“Acho que as videochamadas vieram para ficar como um meio de pré-selecionar as pessoas que você conhece nos aplicativos”, diz Ben.
“Uma vez que o primeiro lockdown terminou, eu continuei preferindo conhecer primeiro as pessoas no mundo virtual antes de saímos para beber. Acho que é definitivamente uma tendência positiva. Com isso, tenho saído mesmo, mas quando vou a algum encontro, tende a ser muito mais provável que transcorra bem.”
Fonte: BBC Future /David Cox
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